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Foto do escritorLuís Beires Fernandes

Menos pode ser mais quando falamos de carregamento de veículos elétricos.





Algumas das questões mais colocadas quando pensamos em veículos elétricos estão ligadas às baterias e à autonomia destes veículos.


É frequente a preocupação com o tempo de carregamento de um veículo elétrico, e a inevitável comparação com um veículo a combustão.


Mas a verdade é que, no que diz respeito a carregamento de veículos elétricos, menos potência é, na verdade, mais vantajoso para o seu veículo, e para o seu bolso.


Comecemos por dizer que um carregador capaz de carregar seu veículo a uma velocidade próxima de um abastecimento de combustível fóssil tem um impacto sobre a bateria relevante, pois este tipo de carregamento – que acontece em corrente contínua, a mesma corrente em que a bateria acumula a energia – provoca um sobreaquecimento muito relevante, que é a principal razão do desgaste dos materiais de uma bateria – iões de lítio. Não será um desgaste visível a cada carregamento. Mas um estudo da Universidade de Idaho, nos Estados Unidos, realizado durante 12 meses, revelou que a utilização sistemática de carregamentos em corrente contínua de alta potência provocava um desgaste 14% superior na bateria de um Nissan Leaf do que a utilização sistemática de carregamentos em corrente alternada, nas potências tradicionais – 7,4 kW (monofásica) ou 22kW (trifásica). Este desgaste significará, no longo prazo, menos autonomia para seu veículo.


A segunda questão é que um carregador de corrente contínua, pelas suas caraterísticas, é no mínimo 10 vezes mais caro que um carregador de corrente alternada, exigindo também toda uma infraestrutura muitíssimo mais dispendiosa para o instalar.


E se o leitor preferir não ter carregador em casa, e for no posto, então o preço de um kW em corrente contínua será sensivelmente 2 a 5 vezes mais caro que um kW adquirido em corrente alternada.


Mas de menos... também pode ser demais!


Por esta altura, você já deve estar pensando que algo de errado está acontecendo aqui. Mas não, é mesmo assim. Carregar com potência de menos, tem diversos inconvenientes.

Quando utilizamos o carregador de emergência, aquele que liga na tomada doméstica, efetivamente, um carro 100% elétrico demorará cerca de 40 a 50 horas para ficar totalmente carregado, se estiver com a bateria zerada. Mesmo um híbrido, poderá demorar 10 horas para ficar completamente carregado, em tomada doméstica.


E se o tempo não for um problema, pergunto se você deixaria com tranquilidade um secador ligado, diariamente, ligado por todas essas horas a uma tomada. Como a tomada não foi planejada para esse esforço, ela vai naturalmente desgastar-se, bem como os fios que alimentam, aumentando o risco de incêndio, curto-circuito, e riscos desnecessários.

Um carregador, desses que vem com o carro, vai estar puxando toda a energia que a tomada permitir durante horas e horas... todos os dias, sem ter sido corretamente preparada para isso. Um carregador de parede, por seu lado, vai receber uma infra própria, fiação, proteções elétricas e todas as condições para poder oferecer ao seu veículo, ao seu edifício e a qualquer pessoa que o utilize, toda a segurança, mesmo que chegue ao local onde vai realizar o carregamento com a bateria zerada e precise de um carregamento longo.


E este é outro dos pontos relevantes. Deixar a bateria zerar, pode também causar demasiado desgaste na sua bateria. Tal como os celulares, não é recomendável deixar a bateria descer sistematicamente abaixo dos 15/20%. Isso causará reações químicas nas células de bateria que, de acordo com especialistas, tirarão “saúde” às mesmas. Mais uma vez, não estamos falando de ficar preocupado por isso acontecer de vez em quando. Este desgaste torna-se visível na situação sistemática e repetida.


Então, qual a melhor estratégia de carregamento?


Como tudo na vida, o carregamento deve ter conta, peso e medida


Cada situação terá as suas caraterísticas, e sua resposta. Deixo aqui algumas pistas para que possa tomar a melhor decisão:

1. Quantos quilômetros realmente circula diariamente com seu veículo?

O carregamento de um veículo elétrico é a reposição da sua autonomia. Ao contrário do carro a combustão, que nos obriga a interromper nossos percursos para carregar, e portanto, tem de ser rápido, o carregamento de um veiculo elétrico deve decorrer idealmente nos locais onde ele passa mais tempo parado – em casa, no trabalho, no shopping, no restaurante. E, na verdade, ele tem de ser suficiente para nos dar a autonomia que precisamos para circular. Não é obrigatório andar sempre com a bateria cheia. Nem demais, nem de menos, certo?

2. Quanto tempo tem para carregar seu veículo?

Se o veículo passa dez, ou mais horas em casa, por exemplo, e essas horas são suficientes para carregar completamente a bateria do seu veículo na tomada, precisará de um carregador? Certamente que não! Mas, para bem da sua segurança, e dos seus bens, é muito importante adequar a instalação ao esforço que lhe está sendo pedido. Existem no mercado tomadas próprias, disjuntores e protetores de surto, e fazer uma adequação da sua infra pode ser bem mais barato do que imagina... e certamente ficará mais em conta que o dano de não o fazer!

3. Está alimentando o veículo com energia própria, ou do condomínio?

Quando está trazendo a energia do quadro da sua residência, tenha em conta o tarifário que usa na sua conta da luz, e eventualmente, a potência que tem disponível. Um carregador vai significar mais ou menos o mesmo que mais uma ducha elétrica. E provavelmente vai utilizá-lo em horas de baixo esforço, então, talvez não seja um problema de maior.


Mas se precisar de energia do quadro do condomínio, então, será importante que escolha um carregador que permita a leitura da energia que consumiu e que eventualmente consiga fazer o gerenciamento da energia que consome a cada momento, para não ultrapassar (sozinho, ou junto com outros carregadores) a potência disponível no condomínio.


E aqui, entra o último ponto deste artigo – uma infra preparada para fazer o gerenciamento da potência que os carregadores consomem a cada momento – a que chamamos “balanceamento” - pode permitir mais carregadores, com menos potência do que imagina.


Uma solução sustentável é, na verdade, mais simples do que imagina... e pode custar menos do que esperaria! Demais, não é?







Luís Beires Fernandes

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